Mais de 70% das mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave estão relacionados à influenza A

Vacinação em idosos é um dos pilares da longevidade saudável e evita complicações graves na terceira idade

Artigo Policial

As vacinas protegem contra doenças, além de agir como um ‘treinamento’ para o sistema imunológico — mesmo quando ele já está mais lento, ainda é capaz de reagir e criar defesas

ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDOA vacinação tem um papel fundamental, especialmente na população idosa

Muitas pessoas ainda pensam que vacina é “coisa de criança”, mas isso não é verdade. Envelhecer com saúde é um desejo de todos hoje em dia, e um dos pilares para que isso aconteça é a prevenção. Entre as principais formas de prevenção, a vacinação tem um papel fundamental, especialmente na população idosa. À medida que envelhecemos, nosso corpo passa por várias transformações — e o sistema imunológico também muda. Essas mudanças tornam os idosos mais vulneráveis a infecções, e é justamente por isso que um calendário vacinal específico para essa faixa etária é tão importante.

Esse processo natural de envelhecimento, chamado de imunossenescência, faz com que o organismo tenha mais dificuldade para combater vírus, bactérias e outros agentes infecciosos. Ele se dá a partir dos 60 anos, quando as células de defesa começam a funcionar de forma mais lenta e menos eficaz. Com isso, os idosos: têm mais dificuldade para combater infecções comuns; respondem de forma mais fraca a novas ameaças; demoram mais para se recuperar de doenças; e, muitas vezes, não apresentam os sintomas típicos de infecção, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento.

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Além disso, o organismo passa a responder menos intensamente às vacinas. Isso não significa que as vacinas deixam de ser eficazes, mas sim que é ainda mais importante que elas sejam aplicadas corretamente e nos prazos recomendados, garantindo o estímulo necessário ao sistema de defesa. Quando um idoso adoece, é mais comum que surjam complicações graves, como internações prolongadas, perda de autonomia e até risco de morte. Por isso, existem vacinas recomendadas especificamente para os idosos, que ajudam a prevenir doenças sérias como a gripe, a pneumonia, o tétano, a COVID-19 e o herpes-zóster (conhecido como cobreiro).

Vacinação: um gesto de cuidado e proteção

As vacinas não apenas protegem contra a doença, elas agem como um “treinamento” para o sistema imunológico — mesmo quando ele já está mais lento, ainda é capaz de reagir e criar defesas, especialmente com vacinas desenvolvidas ou ajustadas para essa faixa etária. Mas também evitam que os idosos sofram com formas graves, que muitas vezes resultam em perda de qualidade de vida. Além disso, manter a vacinação em dia reduz a necessidade de hospitalizações, preserva a independência funcional e contribui para um envelhecimento mais saudável e ativo.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde disponibiliza várias dessas vacinas gratuitamente. Algumas das mais importantes para quem tem 60 anos ou mais são:

  • Influenza (reclamação) – recomendada anualmente, sua importância se deve ao fato de evitar pneumonias e descompensação de doenças crônicas como diabetes e insuficiência cardíaca e até morte. Esta é uma vacina atualizada todos os anos de acordo com os vírus mais prevalentes.
  • Pneumocócicas (contra pneumonia e outras infecções) – hoje temos a 13, 20 e 23. Previnem formas graves de pneumonia, meningite e infecções generalizadas. Sendo o seguinte esquema: VPC 13, após 6-12 meses realizar a VPP23. Em algumas situações, VPC 20 sozinha.
  • dt ou dtpa (contra difteria, tetano e shell) – com reforço a cada 10 anos.
  • Herpes-zoster – disponível na rede privada e em análise para ser incorporada em breve na rede pública. Esta é uma vacina que não impede a doença em si, mas previne a sua complicação mais temida, que é a neuralgia pós-herpética.
  • COVID 19 – com doses de reforço atualizadas conforme as orientações do Ministério da Saúde. Hoje, sendo indicada em idosos com a última dose há mais de 6 meses, estes devem procurar a unidade básica de saúde para atualização. O esquema completo de vacinação reduz 90% das hospitalizações em idosos e 85% da mortalidade.
  • Hepatita b – não é uma doença exclusiva de jovens ou grupos de risco específicos. Os idosos também podem se infectar, e o impacto pode ser ainda mais grave. A vacinação contra hepatite B é recomendada para todas as pessoas não vacinadas, independentemente da idade, incluindo quem tem mais de 60 anos (gratuita pelo SUS). É uma infecção viral que atinge o fígado e pode evoluir de forma silenciosa. Em muitos casos, a pessoa só descobre a doença quando ela já causou danos significativos, como cirrose hepática ou câncer de fígado. A transmissão pode ocorrer por contato com sangue contaminado, relações sexuais desprotegidas ou durante procedimentos médicos ou odontológicos com instrumentos não esterilizados. Com o envelhecimento, além da redução da imunidade, muitas pessoas passam por procedimentos médicos frequentes (cirurgias, diálises, internações), o que aumenta o risco de exposição ao vírus.

Mitos, desinformação e obstáculos práticos

Vacinar idosos não é apenas uma recomendação: é uma medida comprovadamente eficaz na redução de doenças graves, internações hospitalares e mortes evitáveis. Um estudo publicado na Vaccine (2021) mostrou que, em idosos vacinados contra a gripe, houve: 40% menos hospitalizações por pneumonia e 37% menos internações por doenças respiratórias agudas. Em 2022, a vacinação contra a gripe evitou mais de 9 mil mortes no Brasil, segundo dados do DataSUS e Fiocruz.

Mas um assunto importante quando se fala de vacina é o seguinte: mesmo com vacinas seguras, gratuitas e eficazes, a cobertura vacinal entre idosos no Brasil ainda está aquém do ideal. Segundo dados do Ministério da Saúde, a meta de 90% de cobertura vacinal para influenza em idosos não tem sido atingida há anos.

E isso acontece por diversos fatores, que vão muito além da simples “escolha” de se vacinar ou não. Muitos idosos — e até familiares e cuidadores — ainda têm dúvidas ou acreditam em mitos sobre vacinação, como:

  • “Vacina enfraquece a imunidade”
  • “Depois de velho, não adianta mais vacinar”
  • “Tomei a vacina e fiquei gripado” (confundindo reação leve com infecção)
  • “Vacinas causam doenças autoimunes” (sem base científica)

Esse tipo de desinformação circula com força, especialmente em grupos de mensagens e redes sociais, e a falta de campanhas educativas claras e constantes colabora com a dúvida.

Mesmo com a oferta gratuita, muitos idosos enfrentam obstáculos práticos para se vacinar, como:

  • Dificuldade de locomoção até as unidades de saúde
  • Falta de acompanhante ou cuidador disponível
  • Postos com horários reduzidos ou sem atendimento prioritário
  • Longas filas, ausência de profissionais capacitados para esclarecer dúvidas
  • Falta de informação sobre quais vacinas estão disponíveis, quando e onde

Vacinação é um investimento em qualidade de vida

É nosso dever como médicos informar e desmistificar informações falsas por meio de orientações claras e acessíveis, além de incluir a vacinação na rotina dos atendimentos de saúde do idoso. Vacinar-se é um gesto simples, rápido e que salva vidas. Para os idosos, é também uma forma poderosa de garantir mais autonomia, bem-estar e proteção, além de um investimento em qualidade de vida. Cada vacina tem um papel fundamental na proteção do idoso, especialmente quando consideramos o envelhecimento natural do sistema imunológico. Manter a caderneta de vacinação atualizada é um cuidado simples, mas que faz toda a diferença. Converse com seu médico em suas consultas ambulatoriais. Afinal, envelhecer bem também é uma questão de prevenção!

*Pelo Dr. Julianne Pessequillo (CRM 160.834 // RQE 71.895)
Geriatria e clínica médica – Longevidade saudável e membro da Brazil Health



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