Nesse artigo eu e um aluno analisamos um defeito muito intrigante através do WhatsApp. É um daqueles defeitos que desafiam nosso conhecimento e nosso senso analítico. Analisamos uma TV de Plasma LG 50PT250 apresentando granulações na imagem (chuviscos escuros). Esse tipo de defeito provoca sutis alterações nas formas de ondas, difíceis de serem identificadas. Mas é geralmente provocado por baixa amplitude dos pulsos de sustentação, sendo que o erno pode estar na placa Y, na placa Z ou na fonte de alimentação. Entretanto, diferente de todos os defeitos que já analisei, a causa deste defeito era algo inusitado. Durante a análise recebi vídeos e imagens através do WhatsApp e utilizei parte do material neste artigo. Embora os vídeos tenham baixa qualidade, eles são fundamentais para complementar a explicação.
Rangel Carvalho e Silvio Stoinski
Nosso aluno e colaborador Silvio Stoinski me enviou o vídeo abaixo no WhatsApp mostrando uma TV de Plasma LG 50PT250 apresentando granulações na imagem. Note que a placa Buffer inferior está sem os CIs Buffers, com isso a imagem aparece somente na metade de cima da tela.
Ele disse que recebeu essa TV com alguns CIs Buffers da placa inferior em curto. Antes de trocar os CIs ele testou com outra placa Buffer inferior e a imagem ficou normal. Ele então substituiu todos os CIs Buffers da placa inferior, porém a imagem ficou com granulações. Desconfiado da qualidade dos Cis Buffers, ele retirou todos os CIs da placa Buffer inferior, porem as granulações continuaram. Claro que agora apareceu imagem somente na metade de cima da tela, visto que a placa Buffer inferior estava sem os CIs Buffer.
Foi aí que ele me enviou o vídeo mostrando o defeito e perguntou se eu podia lhe ajudar. Considerando que granulações na imagem raramente são causadas pela placa buffer, achei que essa análise poderia ser bem interessante e serviria como um grande aprendizado. Para iniciar a análise pedi para me enviar a forma de onda na saída da placa Buffer superior. Essa forma de onda é mostrada no vídeo abaixo.
Observando a forma de onda, não consegui identificar um erro que justificasse o sintoma. Os pulsos de sustentação estavam variando de 0V a 200V, a primeira rampa set-up passava de 300V, a rampa set-down chegava próximo a -200V e os pulsos de varredura também chegavam próximo a -200V. Aparentemente a forma de onda estava normal.
Apesar de não ter encontrado erro na forma de onda, sabíamos que o defeito estava na placa Buffer inferior. Se não tivesse testado com outra placa buffer iríamos analisar a placa Y, uma vez que esse defeito é muito comum na placa Y.
Bom, considerando então que o defeito estava na placa Buffer, descartamos os pulsos de sustentação e as rampas Set-up e Set-down, pois essas partes da forma de onda são geradas na placa Y. A única parte da forma de onda gerada na placa Buffer são os pulsos de varredura. Focamos então a análise nos pulsos de varredura.
Observei atentamente os pulsos de varredura no vídeo anterior, mas não consegui perceber algo que justificasse o defeito. A única coisa que notei é que os pulsos de varredura aparecem e somem rapidamente. Mas isso é normal, os pulsos de varredura aparecem nas cenas que devem ter brilho e desaparecem nas cenas escuras.
Pedi então para o Sílvio enviar outro vídeo medindo a mesma forma de onda, mas agora com o sec/div em 200us para observarmos os pulsos de varredura com mais detalhes. Ao analisar esse vídeo notei que às vezes os pulsos de varredura diminuíam. O vídeo abaixo foi pausado exatamente no instante que o pulso de varredura diminui.
A diminuição dos pulsos de varredura justificava as granulações na imagem. Lembrando que os pulsos de varredura selecionam as células de plasma que devem gerar brilho. Em outras palavras, selecionam as células que devem receber cargas para posteriormente ocorrer as descargas e gerar brilho. Se a amplitude dos pulsos diminuir, diminui também a quantidade de cargas acumuladas nas células, consequentemente diminui o brilho da célula provocando granulações nas imagens.
Sabendo agora que o erro estava nos pulsos de varredura, passamos a analisar os sinais de controle utilizados na formação dos pulsos de varredura, sendo eles, o sinal DATA, o sinal CLK e o sinal LE. Antes de verificar esses sinais vamos relembrar a função de cada sinal.
O sinal DATA é o pulso de start que inicia a varredura vertical, ou seja, posiciona o pulso de varredura na primeira linha no topo da tela. O sinal CLK (Clock) é uma onda quadrada que desloca o pulso de varredura da primeira linha até a última linha na parte de baixo da tela. O sinal LE (Latch Enable) também é uma onda quadrada cujos picos positivos determinam a largura exata dos pulsos de varredura.
Retornando a análise, pedi para Sílvio medir esses três sinais na entrada do primeiro CI Buffer da placa inferior. Como estava sem o CI Buffer, a medição poderia ser feita nos respectivos pads ou nos componentes ligados nos pads, como mostra a figura abaixo.

Como esses sinais têm amplitude em torno de 5V, ajustamos o osciloscópio em 2V e soltamos o cabo de alimentação VS para diminuir as interferências e facilitar a visualização. Só é possível medir os sinais de baixa amplitude sem a VS nas TVs cuja placa Y tem dois conversores DC/DC. O vídeo abaixo mostra essas medições. Como o sec/div está 200us, ajustado para mostrar sinais de baixa frequência, os sinais de alta frequência como, CLK e LE serão mostrados em forma de pacote, não sendo possível notar a onda quadrada.
Com essas medições vimos que os sinais DATA e CLK estavam normais, porém não encontramos o sinal LE. A ausência do sinal LE não inibe os pulsos de varredura, porém deixa de controlar a sua largura. Considerando que a tela de Plasma atua como capacitor, se a largura do pulso de varredura diminuir, a amplitude também diminui, uma vez que o pulso termina antes de carregar o capacitor. A figura abaixo ilustra esse efeito.

Bom, então descobrimos que o erro da placa Buffer era a ausência do sinal LE na entrada do CI Buffer. Agora a análise estava praticamente definida. Bastaria seguir o caminho do sinal LE para descobrir a causa desse erro. Acompanhando a trilha na placa vimos que passava pela rede resistiva RA806 e chegava no pino 14 do CI 541. A figura abaixo mostra esses dois componentes.

Pedi então para o Sílvio medir no pino 14 do CI 541 e encontramos o sinal LE com amplitude de 5V. Em seguida ele mediu após a rede resistiva e não encontramos o sinal. O video abaixo mostra essas duas medições.
Como não encontramos sinal após o resistor, poderia ter um curto nessa linha matando o sinal. Mas isso estava descartado, uma vez que a amplitude antes do resistor estava normal. Se tivesse curto após o resistor, a amplitude do sinal antes do resistor teria diminuído. Chegamos então a conclusão que o resistor estava aberto, ou seja, o resistor do lado direito da rede resistiva estava aberto. Após substituir a rede resistiva, conferimos novamente os sinais antes e depois e vimos que estavam normais. Essas medições são mostradas no vídeo abaixo.
Para finalizar a análise, medimos a forma de onda na saída da placa buffer e vimos que os pulsos de varredura estavam normais. Eles continuavam aparecendo e sumindo, mas agora a amplitude não diminuía. Verificamos em seguida a imagem e vimos que estava limpa, sem granulações. O vídeo abaixo mostra a finalização dessa análise.
Muitos técnicos poderiam optar pela substituição da placa Buffer, principalmente após fazer o teste com outra placa. Porém, a placa Buffer dessa TV não é muito barata, além disso, quem poderia suspeitar que a distorção na imagem era provocada pela placa buffer? Por isso é sempre bom analisar antes de optar pela troca da placa. E se após analisar decidir trocar a placa, o aprendizado já terá valido a pena. Na minha opinião, o aprendizado é mais importante que o resultado.