Sextorsão digital entre adolescentes: o novo risco silencioso à saúde sexual

Sextorsão digital entre adolescentes: o novo risco silencioso à saúde sexual

Artigo Policial

O aumento de casos de sextorsão digital tem tornado adolescentes mais vulneráveis a chantagens, controlando não apenas sua vida íntima, mas também sua saúde emocional e psicológica

vecstock- Freepik – Gerada com IADiversos perfis de agressores podem praticar a sextorsão, desde parceiros íntimos até desconhecidos

Sextorsão, ou extorsão sexualé uma forma de cibercrime que consiste em ameaçar a divulgação de imagens de conteúdo sexual da vítima, com o objetivo de forçá-la a atender às exigências do agressor, que podem envolver submissão, controle da vítima, práticas sexuais forçadas ou extorsão financeira. A chantagem sexual imposta pelo agressor, exigindo que a vítima exiba ou compartilhe, virtualmente, imagens de cunho sexual, configura o abuso sexual baseado em imagens (ASBI).

Formas e dinâmicas da sextorsão

O ASBI refere-se à captação, criação ou compartilhamento não consensual de imagens que revelam a intimidade corporal ou sexual de uma pessoa, por meio de fotos ou vídeos. A sextorsão é uma forma de ASBI, assim como a coerção para o sexting, que envolve pressionar, ameaçar ou coagir alguém a compartilhar suas imagens íntimas; o Deepfakeuso de inteligência artificial para criar imagens sexualizadas falsas ou digitalmente alteradas; e o cyberflashing, que é o envio não solicitado e indesejado de imagens sexualmente explícitas.

Diversos perfis de agressores podem praticar a sextorsão, desde parceiros íntimos abusivos e controladores até conhecidos da vítima ou desconhecidos, bem como criminosos, todos utilizando meios ilícitos para obter material destinado à exploração sexual e exercer poder e controle coercitivo sobre a vítima. Nessas situações, os perpetradores utilizam a sextorsão para induzir a vítima a compartilhar imagens íntimas e, posteriormente, chantageá-la em troca de dinheiro.

Predadores sexuais também utilizam sites e aplicativos de encontros online, além de plataformas de redes sociais, para se conectar com as vítimas, realizando ataques a pessoas emocionalmente vulneráveis por meio de encontros românticos fraudulentos. Sem desconfiar, a vítima se envolve no compartilhamento de momentos e imagens íntimas, bem como comunicação sexual virtual, que serão usados como material de extorsão. Assim, acaba se submetendo à chantagem do perpetrador por medo da exposição.

Consequências e medidas de prevenção

Um estudo com 1.385 adolescentes vítimas de sextorsão revelou que quase 60% eram menores de idade no momento da ocorrência e conheciam os agressores pessoalmente, frequentemente como parceiros românticos. Entre esses, 75% forneceram imagens aos agressores de forma consciente, mas 67% se sentiram coagidos a compartilhar as imagens; um terço sofreu ameaças de agressão física e intimidação por meses; 50% não revelou os incidentes, e poucos denunciaram à polícia ou a sites. Em comparação aos adultos, os menores de idade foram mais expostos à violência e, com mais frequência, foram incitados à autolesão.

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Diante disso, é fundamental tomar medidas de proteção contra a sextorsão, principalmente entre adolescentes, adultos jovens e pessoas emocionalmente vulneráveis:

  • Educação sexual com discussão sobre comportamentos sexuais de risco em redes sociais.
  • Monitoramento dos conteúdos virtuais acessados por adolescentes.
  • Discussão e orientação sobre os riscos do compartilhamento de imagens íntimas e identificação de comportamentos de manipulação online.
  • Trabalho sobre consciência a respeito de consentimento, coerção e violência de gênero, adaptando a linguagem para adolescentes e adultos jovens.
  • Recomendação do uso de plataformas seguras para comunicação e relacionamentos.
  • Ensino para identificar sinais de alerta, como declarações de amor prematuras, pedidos para entrar em canais privados, pedidos de dinheiro ou envio de imagens íntimas precocemente.
  • Alerta de que golpistas podem criar conexões emocionais intensas para manipular e isolar a vítima.

Lucia Alves S Lara – CRM 123389/SP RQE 0415/1997
Mestre e Doutora pela USP, coordenadora do Serviço de Saúde do setor de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto USP, Vice-Presidente da Comissão Nacional Especializada de SEXOLOGIA da FEBRASGO

Bibliografia

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