O setor de transporte rodoviário tem registrado queda no número de roubo de carga, mas é importante considerar que tanto a quantidade quanto os prejuízos financeiros decorrentes dessa prática podem variar, dependendo da fonte e da metodologia de registros. Além das perdas financeiras, as ocorrências também impactam diretamente a profissão do motorista de caminhão, pois, de acordo com a Federação dos Caminhoneiros Autônomos (Fecam), mais de 40% dos condutores que foram vítimas de roubo relata ter sofrido algum tipo de violência física ou psicológica.
Estudos e relatórios sobre o problema mostram o sequestro temporário do motorista como parte da ação dos ladrões. Por conta dessa estratégia, as vítimas sofrem algum tipo de violência física ou psicológica no momento do assalto ou durante o período em que ficam em poder dos criminosos.
Estima-se que, todo ano, cerca de 3 mil condutores sofram esse tipo de agressão. Somada à baixa valorização profissional — além das condições adversas enfrentadas na rotina da profissão —, a insegurança causada pela indústria do roubo de cargas tem se destacado como mais um dos fatores responsáveis pelo esvaziamento da profissão.
Roubo de Carga: pesquisa mostra ser um dos fatores de desinteresse da profissão
Pesquisas periódicas sobre segurança nas estradas e a percepção dos transportadores e motoristas consideram o risco de roubo um dos principais fatores que desestimulam o ingresso de novos profissionais na atividade. A pesquisa Perfil dos Caminhoneirosrealizada periodicamente pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), aponta que, para 62% dos motoristas, a insegurança é um dos principais problemas da profissão.
Os profissionais do volante também apontam o preço do diesel como a maior dificuldade do dia a dia. O objetivo do trabalho da CNT é traçar um panorama detalhado sobre quem são os motoristas profissionais do Brasil e entender as características sociodemográficas, comportamentais e profissionais dos caminhoneiros.
De acordo com dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logistics)em 2024 foram registrados 10.478 roubos de cargas no Brasil, que causaram um prejuízo de R$ 1,2 bilhão. Esse total representou uma redução de 11% nas ocorrências em relação a 2023 e de 59,6% quando comparado aos 25.950 casos registrados em 2017, que resultaram em R$ 1,217 bilhão de prejuízo.
Especialistas observam que a prática do roubo de cargas se profissionalizou ao longo dos anos. Levantamento dos últimos 10 anos mostra que a redução no volume de ocorrências não significa menor prejuízo, pois as quadrilhas ficaram mais seletivas, atacando menos, mas levando cargas de maior valor agregado, o que eleva o valor médio por roubo.
Estudos apontam que, até 2012, os ladrões atuavam de forma oportunista, mirando principalmente eletrodomésticos, cigarros e alimentos. Hoje, os criminosos utilizam tecnologias, contam com informantes dentro da cadeia logística e preferem mercadorias de alto giro e fácil revenda, como medicamentos, eletrônicos, combustíveis, autopeças e alimentos perecíveis.
DIFÍCIL SOLUÇÃO – O roubo de cargas é visto como um problema complexo, de difícil solução, que causa prejuízos financeiros para toda a sociedade. Essa situação criou a necessidade de as empresas de transporte investirem mais em segurança, além de impactar financeiras, embarcadores e seguradoras, elevando os preços, principalmente dos produtos mais visados. Vale lembrar que os custos acabam recaindo sobre o consumidor final.
Segundo relatório mais recente da empresa gerenciadora de riscos Buonny, divulgado em março de 2025, os custos com escoltas armadas e sistemas de rastreamento cresceram 30% nos últimos cinco anos. A informação consta no estudo anual sobre roubo de cargas no Brasil, elaborado pela nstech, ecossistema que inclui a Buonny como uma de suas principais gerenciadoras de risco. O relatório analisa tendências e desafios no setor logístico, destacando o aumento dos investimentos em segurança como resposta à sofisticação das quadrilhas e ao foco em cargas de maior valor agregado.
CONTRA OS ROUBOS – Sistemas de rastreamento, monitoramento e análise de dados para identificar padrões e prevenir roubos têm sido as principais medidas adotadas pelo setor. De acordo com o Relatório Análise de Roubo de Cargasda nstech, no primeiro trimestre de 2025 a região Sudeste lidera o ranking de ocorrências, com 72% dos casos — uma queda de 5,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
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O levantamento apontou também que 48,6% do prejuízo está relacionado a cargas fracionadas e 44,4% a cargas de alimentos. Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro lideram o número de ocorrências, com 36,7% e 25,4%, respectivamente. De acordo com o Relatório Análise de Roubo de Cargasda nstech, no Rio de Janeiro as ocorrências aumentaram 7,4%, sendo que, à noite, saltaram de 16,8% para 45,2%. Já em São Paulo, houve uma redução de 9,8%.
ROUBO DE CARGAS NO BRASIL |
|
REGIÃO SUDESTE |
Percentual |
São Paulo |
40% dois casos |
Rio de Janeiro |
18% dois casos |
Minas Gerais |
12% dois casos |
Estados do Sul |
8% dois casos |
Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte |
10% dos casos(somados) |
CARGAS MAIS VISADAS |
Percentual |
Bebidas |
17% |
Combustíveis e lubrificantes |
14% |
Produtos farmacêuticos |
12% |
Autopeças |
9% |
Eletroeletrônicos |
8% |
Outros (Outros (roupas, cigarros, cosméticos, materiais diversos) – 40% |
40% |
EVOLUÇÃO DOS ROUBOS DE CARGA |
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Ainda |
Ocorrências |
Prejuízo estimado (R$) |
2015 |
19.248 |
1,12 bilhão |
2016 |
Sem dados |
Sem dados |
2017 |
25.950 |
1,57 bilhão |
2018 |
22.200 |
Sem dados |
2019 |
Sem dados |
Sem dados |
2020 |
Sem dados |
Sem dados |
2021 |
14.400 |
1,27 bilhão |
2022 |
14.000 |
Sem dados |
2023 |
17.000 |
Sem dados |
2024 |
10.478 |
1,217 bilhão |