A cientista política Luciana Santana avalia que o avanço do Projeto de Emenda à Constituição (PEC) da Dosimetria, que pode reduzir penas de envolvidos nos atos de 8 de janeiro, representa uma tentativa de “buscar um caminho que amenize a situação dos bolsonaristas”. Em entrevista ao Conexão BdFtambém Rádio Brasil de Fatoela destacou que a proposta atual pode servir como um instrumento político e reverter parte do cenário atual, mais favorável ao governo Lula (PT), ao permitir que o bolsonarismo use a pauta como símbolo de “pacificação” e de força política.
“Qualquer redução de penas que vier a acontecer pode significar um trunfo nas mãos dos bolsonaristas, desse núcleo mais radicalizado da direita”, afirmou. Ela lembra que o grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem acumulado derrotas, com o Projeto de Lei (PL) da Anistia paralisado e a PEC da Blindagem rejeitada e arquivada. “Isso tem feito com que tivéssemos esses resultados eleitorais mostrando um aumento de popularidade do presidente Lula”, disse Santana.
A especialista avalia que o impacto do debate sobre o projeto é direto sobre a base da direita e sobre o cenário de 2026. Segundo ela, o bolsonarismo enfrenta neste momento um desgaste político e perda de apoio popular. “Tem problemas para a eleição de 2026, isso está muito claro”, pontuou.
Santana destacou que a falta de sintonia entre a Câmara e o Senado levou ao arquivamento da PEC da Blindagem. Para ela, se houver agora um entendimento entre as duas Casas — que ela caracteriza como “bastante conservadoras” — e o Planalto, “podemos ter um cenário diferente nessa situação em específico”, afirmou, indicando chances maiores de aprovação da PEC da Dosimetria.
O relator da proposta, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), afirmou que deve apresentar seu parecer ainda nesta semana, após uma reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para tentar construir um acordo sobre o texto.
Congresso: prioridades invertidas
A cientista política também criticou o foco do Congresso em “pautas autointeressadas”, voltadas ao retorno eleitoral dos parlamentares, em vez de priorizar demandas sociais. Ela recordou que projetos como a PEC da Blindagem e o PL da Anistia ganharam espaço nas discussões, enquanto medidas de impacto direto na população só avançam sob forte pressão, “como foi a votação da isenção do Imposto de Renda na semana passada”, exemplificou.
“As mensagens do Legislativo brasileiro não têm sido muito boas, têm mostrado que as prioridades estão invertidas. O que se espera de um parlamentar é que ele esteja atento às prioridades da população. Quando vemos uma priorização muito grande de pautas que não vão impactar a vida do brasileiro, temos sinais muito ruins sendo enviados pelo Legislativo”, apontou.
Ao comentar a agenda tributária, Santana reforçou a importância da taxação de grandes fortunas e setores financeiros. “Essa é uma prioridade que já é demandada há muitos anos. O grande desafio para o governo, já vencido, foi tentar convencer deputados, que têm o perfil mais conservador e são influenciados por essa pequena população mais rica do Brasil”, analisou.
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