Uma nova operação de deportação de brasileiros pelos Estados Unidos está em andamento e chamou a atenção por um detalhe inédito: a aeronave responsável pelo transporte fará uma escala na base naval de Guantánamo, em Cuba, antes de chegar ao Brasil. A informação, segundo apurado pelo Brazilian Press, foi confirmada com base em dados de rastreamento aéreo e documentos oficiais do plano de voo.
O desembarque está previsto para a manhã desta sexta-feira (25), no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza (Ceará), local já consolidado como ponto de recepção das autoridades brasileiras para esse tipo de operação. O voo será realizado por um Boeing 767-300 da Omni Air International, empresa frequentemente contratada pelo governo norte-americano para transporte de deportados.
A rota, no entanto, surpreendeu especialistas em direitos humanos e migrantes. A aeronave decolou do Aeroporto Internacional de Valley, em Harlingen, Texas — região próxima à fronteira com o México — às 17h40 (horário de Brasília) na quinta-feira (24). Cerca de quatro horas depois, por volta das 21h30, pousou no Leeward Airfield, pista da Estação Naval dos Estados Unidos em Guantánamo.
A escala, programada para durar aproximadamente duas horas, é considerada atípica. Guantánamo é conhecida internacionalmente por abrigar um centro de detenção controverso, administrado pelo Departamento de Defesa dos EUA, onde são mantidos indivíduos acusados de terrorismo ou ligados a conflitos no exterior. Autoridades norte-americanas e brasileiras não divulgaram se houve embarque ou desembarque de pessoas durante a parada. Após a decolagem de Guantánamo, prevista para as 23h30, o avião seguiu direto para Fortaleza, com chegada estimada às 6h da manhã. A permanência no aeroporto cearense será curta: apenas duas horas. Às 8h, a aeronave decolará novamente, agora com destino a Lima, no Peru, em uma etapa adicional da operação.
Na última ação desse tipo, ocorrida em 18 de julho, 26 brasileiros foram trazidos de volta ao país sob o mesmo modelo logístico. Na ocasião, o Governo Federal e o Governo do Ceará atuaram em conjunto, por meio da Secretaria dos Direitos Humanos (Sedih), garantindo acolhimento humanitário, assistência jurídica e apoio psicossocial aos deportados. As deportações são conduzidas pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) e têm como objetivo remover estrangeiros que, segundo as autoridades norte-americanas, violaram as leis migratórias — seja por entrada ilegal, condenações criminais, negativas de asilo ou por serem considerados risco à segurança nacional.
Nos últimos meses, essas operações têm se intensificado, refletindo o endurecimento das políticas migratórias norte-americanas, especialmente na região da fronteira sul. A inclusão de Guantánamo no trajeto desta sexta-feira, ainda que possa ter motivos logísticos — como reabastecimento ou questões operacionais —, levanta discussões sobre os critérios utilizados e os possíveis impactos simbólicos de associar deportações civis a um local historicamente ligado a detenções de alto perfil. O Brazilian Press tentou contato com o DHS e com a Embaixada dos EUA no Brasil para comentar a escala em Guantánamo, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.