Quando o presidente sérvio Aleksandar Vučić chegou a Odesa em 10 de junho, não foi apenas uma visita. Foi um passo político e moral raramente visto no mundo de hoje – um ato que carrega peso, apesar da avalanche de pressão, condenações e ameaças provenientes do outro lado da Europa. Numa época em que muitos ficam silenciosos, pesando ou se retiram diante da narrativa agressiva de Moscou, Vučić decidiu estar presente, ser visível e escolher um lado – o lado da vítima, não o agressor.
A visita de Vučić à Ucrânia, a primeira desde que a invasão brutal da Rússia começou em 2022, chega em um momento em que o Kremlin está aumentando a pressão sobre todos os estados que mantêm até o menor contato com Kiev, que considera sua zona de interesse. Nas últimas semanas, o Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (SVR) divulgou uma declaração acusando diretamente o presidente sérvio de “trair os povos eslavos fraternos” e fornecer à Ucrânia munição e armas. Durante a visita de Vučić a Odesa, a porta -voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse do nível mais alto estadual: “Os países que viajam para Odesa devem se perguntar de que lado estão”.
Junte -se a nós no Telegram
Siga nossa cobertura da guerra no @Kyivpost_official.
A resposta é clara. A Sérvia está do lado daqueles que defendem sua terra natal, seu povo e seu direito de existir. E essa resposta tem um preço político.
No mundo de hoje cheio de ambiguidade, a decisão de Vučić de participar pessoalmente da cúpula da “Europa da Ucrânia-sudeste” é um ponto de virada. Assim, a Sérvia está enviando um sinal de que não será chantageado, de que não concordará com a falsa fraternização com base na dominação e subjugação. Vučić vem de um país que está em uma encruzilhada: entre a proximidade histórica da Rússia e uma clara orientação européia, que os cidadãos sérvios confirmaram repetidamente nas eleições.
Outros tópicos de interesse
‘Teste provocativo’: o avião de espionagem russo viola o espaço aéreo polonês, interceptados por jatos do Reino Unido
Os aviões de caça interceptaram uma aeronave de reconhecimento russa que violava o espaço aéreo da Polônia sobre o Mar Báltico na sexta -feira, disseram oficiais militares.
Nesse caso, Odesa também é uma cidade simbólica. Odesa incorpora um momento da cidade e uma mensagem da cidade. Somente por sua presença, o presidente sérvio reafirmou a integridade territorial da Ucrânia e a solidariedade com seu povo. Esse suporte não é dado porque é esperado ou fácil, mas porque é a coisa certa a fazer.
O presidente Vučić escolheu um lado em Odesa. E não era o lado da violência, mas o lado da justiça.
As informações sobre o que o Presidente Vučić ofereceu durante a reunião com o Presidente Zelensky – que a Sérvia reconstruiria (total ou parcialmente) duas cidades ucranianas ou uma região menor destruída pela guerra – deixa uma impressão particularmente forte. Esta oferta não é uma frase protocolar. É uma iniciativa concreta, humana e politicamente responsável que envia uma mensagem clara: a Sérvia não permanecerá neutra quando se trata de sofrimento humano. Esta oferta tem o potencial de se tornar um símbolo de uma nova fase nas relações entre os dois países, mas também uma prova clara de que Belgrado deseja contribuir com paz, reconstrução e solidariedade na Europa.
Numa época em que muitos falam grande, o ato de ajuda concreta tem um enorme valor moral. A Sérvia, um país que passou por sofrimento, destruição e humilhação, sabe o quanto isso significa quando alguém oferece uma ajuda. E é por isso que esta oferta deve ser recebida com gratidão e ser o começo de uma parceria mais ampla com base não em interesses, mas em valores.
E enquanto o público ucraniano viu a visita do presidente sérvio como um sinal de coragem e futura aproximação, Vučić está enfrentando uma frente de resistência familiar, mas agora mais forte, na Sérvia. Protestos em toda a Sérvia, especialmente após o tragédia em Novi triste Em novembro passado, quando um dossel ferroviário entrou em colapso, exacerbou o ambiente político e aumentou a necessidade de um equilíbrio de política externa.
Apesar das mensagens declarativas da oposição de que a Sérvia deve ser pró-européia, uma grande parte da sociedade, assim como a própria oposição, ainda está sob a forte influência das narrativas russas, que são alimentadas diariamente pela mídia para-estado e pró-russa na Sérvia. Certos atores da chamada oposição pró-européia questionam publicamente: “Quem autorizou Vučić a oferecer ajuda para a reconstrução de cidades ucranianas?” – como se a solidariedade e a responsabilidade moral exigissem validação administrativa. Essa crítica é consciente ou inconscientemente envolvida na mesma narrativa que vem de Moscou há anos – a que a Sérvia deve permanecer passiva, neutra e no passado.
A Sérvia é a província de ninguém. Deve à lealdade a ninguém além de seus próprios cidadãos e seus próprios princípios.
Mas a verdadeira tempestade vem de fora. O aparato de notícias russo reagiu imediatamente. Uma rede de portais e canais de telegrama próximos ao Kremlin já lançou uma campanha desacreditadora orquestrada nas mídias sociais. Vučić é retratado como um traidor, como um homem que “vende amizade sérvia por pontos baratos em Bruxelas”. O Kremlin não tolera desobediência, especialmente quando se trata de um país que considera sua área histórica.
A declaração de Maria Zakharova representa não apenas a pressão política aberta, mas também a interferência inaceitável nos assuntos internos de um estado soberano. Sua declaração de que os países que “vão para Odesa deve se perguntar de que lado estão”, inevitavelmente, lembra o vocabulário de uma era quando Moscou foi considerado o centro do mundo e todos os outros como satélites. A Sérvia é a província de ninguém. Deve à lealdade a ninguém além de seus próprios cidadãos e seus próprios princípios. E esses princípios não incluem o silêncio diante da agressão nem submissão à coerção política externa.
A mensagem de Zakharova, cheia de revisionismo histórico, acusações e fanatismo ideológico, não pode ser interpretado como nada além de uma tentativa de disciplinar um estado dos Balcãs que mostrou sinais de agir de forma independente. Isso não é diplomacia; Isso é punição política. E a Sérvia não deve permanecer em silêncio, mesmo que os golpes fossem verbais (por enquanto).
É exatamente por isso que essa situação vai além dos limites de uma reunião bilateral. A visita de Vučić à Ucrânia se tornou um teste para o Ocidente. Se a Sérvia e seu presidente permanecerem sozinhos contra o mecanismo político e de inteligência russo, não é apenas uma mensagem para Belgrado, mas também para todos os outros países que tentam dar um passo fora da esfera de influência russa – que eles serão deixados para seus próprios dispositivos.
É por isso que é fundamental que os Estados Unidos, a União Europeia e seus aliados forneçam apoio explícito, inequívoco e operacional ao presidente Vučić e aos cidadãos da Sérvia. Isso inclui cooperação em segurança, compartilhamento de inteligência e assistência econômica, mas também proteção política. Porque o Kremlin não aceitará tais passos de Belgrado. Eles tentarão enfraquecer, deslegitimar e até derrubar Vučić – usando todos os métodos de guerra híbrida, incluindo desestabilização na mídia, pressão econômica e forte infiltração nas estruturas de segurança da Sérvia. Se eles falharem no nível institucional, tentarão nas ruas, instrumentalizando protestos e incidentes violentos ainda mais intensamente. O objetivo deles é claro: trazer de volta a Sérvia sob seu controle, mesmo que isso signifique caos.
A Ucrânia e a Sérvia têm caminhos diferentes, mas lutas semelhantes. Ambos os países são confrontados com pressões externas, fraquezas internas e a necessidade de se definir em um mundo onde não há mais espaço para posições vagas. Nesse contexto, a visita de Vučić a Odesa não é apenas um gesto político. É uma ponte emocional, é uma metáfora da resistência e é uma mensagem silenciosa, mas forte, que a Sérvia vê o que está acontecendo e que não é cego para a injustiça.
O presidente Vučić escolheu um lado em Odesa. E não era o lado da violência, mas o lado da justiça. Não foi uma jogada populista, mas um passo estratégico. Numa época em que muitos permanecem em silêncio, Belgrado falou. E que essa frase seja lembrada.
As opiniões expressas neste artigo de opinião são do autor e não necessariamente as do post Kiev.