Faltam menos de quatro meses para a Conferência do Clima da ONU, a COP30o cenário em Belém segue marcado por incertezas e atrasos. Pressionado por denúncias de preços abusivos e pela reunião emergencial convocada pela ONU para tratar da crise de hospedagem, o ministro do Turismo, Celso Sabinocancelou compromissos e embarcou para a capital paraense. Durante a visita, o ministro afirmou que milhares de novos leitos ficarão prontos até outubro, especialmente para atender à demanda do Círio de Nazaré. A promessa de entrega próxima ao evento climático, previsto para novembro, reacende o debate sobre prazos, planejamento e o risco de improviso em um evento que exige previsibilidade global. Para as delegações internacionais, especialmente de países em desenvolvimento, hospedagem garantida com antecedência é condição básica para confirmar presença. Em muitos casos, as passagens são compradas com apoio de fundos multilaterais que exigem documentação formal, estimativas de custo e segurança logística. Ao deixar a entrega das acomodações para o último mês, o Brasil reduz a margem de preparação de dezenas de países, dificultando a participação justamente daqueles que mais precisam estar na mesa de negociação climática. A manutenção de Belém como sede foi reafirmada pelo Itamaraty e pela presidência da COP30, que descartaram qualquer plano B. Mas o risco político está no ar: uma eventual mudança de cidade às vésperas da conferência traria perdas diplomáticas, logísticas e de imagem para o Brasil. Cancelamentos de contratos, judicialização de investimentos, impactos financeiros e desgaste internacional com parceiros já engajados na agenda amazônica são apenas algumas das consequências possíveis.
Ao mesmo tempo, o governo federal afirma que está mobilizado. Além da entrega de hotéis, estão em construção navios-hotel, vilas temporárias e estruturas alternativas, como alojamentos em universidades. A estimativa é de mais de R$ 4 bilhões investidos em infraestrutura. Ainda assim, resta a dúvida: será suficiente para garantir acesso digno e tarifas justas para todos? A crise de hospedagem escancarou o descompasso entre o planejamento físico e as necessidades da diplomacia climática. A COP30 exige não apenas quartos, mas credibilidade. E um dos pontos mais sensíveis é o tempo de resposta.
Uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva reforça esse ponto: 90% dos brasileiros acreditam que a COP30 pode gerar impactos práticos no enfrentamento da crise climática. Para 83% da população, os governos devem investir mais em soluções ambientais. E 82% esperam engajamento real das empresas nessa agenda.
Esse recado não vem da Ele nem de especialistas. Vem da base da sociedade brasileira, que enxerga na COP30 uma oportunidade histórica. Se ela será lembrada como virada de chave ou fracasso logístico, ainda está em construção — assim como as obras prometidas para serem finalizadas em outubro.