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As últimas palavras da defesa de Mauro Cid no caso da tentativa de golpe de Estado, apesar da aparência de enfrentamento jurídico, soam como um apelo à sobrevivência, por meio das quais o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro tenta suavizar a própria culpa.
A ênfase no pedido para que a eventual pena não ultrapasse dois anos não é despropositada, afinal, reclusão maior poderá levá-lo à expulsão do Exército – e, por consequência, à necessidade de arrumar um emprego.
Cid quer salvar o que resta de sua trajetória militar e precisa convencer os ministros do STF de que colaborou de maneira válida e útil ao processo – motivo pelo qual faria jus à clemência.
A Procuradoria-Geral da República, porém, resiste aos benefícios, pois o colaborador, além de mentir, teria mudado de versões, agido para obstruir o processo e quebrado cláusulas do acordo.
A argumentação da defesa recorre a um tom dramático, com um paralelo entre Mauro Cid e Jean Valjean – o protagonista de “Os Miseráveis”, de Victor Hugo.
Não poderia haver pior metáfora: Jean Valjean roubou pão para alimentar a família; Mauro Cid, pelo contrário, sabujo e pusilânime, transgrediu para viabilizar os crimes do chefe, como uma peça-chave na engrenagem golpista que tentou desestabilizar a democracia brasileira.
Se há algo que une o personagem fictício ao da vida real é a busca da redenção. No romance, esta surge como consequência da virtude. No Brasil de 2025, todavia, a tal liberdade parece depender mais do cálculo político do que do arrependimento genuíno ou da comprovação da inocência.