Com a ameaça iminente de uma avaliar de 50% imposta pelos Estados Unidos, o Brasil corre contra o tempo para evitar um impacto significativo em suas exportações. A medida, anunciada por Donald Trumpdeverá entrar em vigor já em 1º de agosto, gerando apreensão e incerteza no cenário político e econômico nacional. Christopher Garman, analista político da Eurasia Group, e o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, apontam que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva agiu tardiamente nas negociações.
Desde abril, quando uma tarifa de 10% já havia sido aplicada, o governo brasileiro deveria ter intensificado os contatos diplomáticos formais, na visão dos especialistas. A falta de comunicação direta entre o presidente Lula e Trump, assim como entre os ministérios, é vista como um obstáculo.
A retórica do presidente Lula, que fez críticas públicas a Trump, também não ajudou a criar um ambiente favorável para negociações. Garman sugere que Trump pode se identificar com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que pode ter influenciado a decisão das tarifas. “A raiz dessa tarifa, no fundo, é que Trump se identifica com Jair Bolsonaro. Ele acredita que foi perseguido pelo Judiciário, censurado pelas mídias sociais. E foi acusado de ser antidemocrata. Existe uma ressonância.” Embora as declarações de Lula não sejam a causa direta, elas certamente complicam os esforços diplomáticos.
Última cartada: a ligação direta de Lula para Trump
Diante da escassez de tempo, a sugestão de especialistas e até mesmo de membros da comitiva brasileira em Washington, como o senador Esperidião Amin (Progressistas-SC), é que o presidente Lula faça uma ligação direta para Trump. A carta enviada pelos EUA, que, além de mencionar temas de política interna, propõe negociações comerciais (como a abertura do mercado brasileiro para produtos americanos), sinaliza que ainda há espaço para diálogo.
Amin argumenta que Lula não tem “nada a perder, só a ganhar” com essa iniciativa, mesmo que a reação de Trump seja hostil. A falta de um canal de confiança entre o corpo diplomático brasileiro e o governo americano é uma crítica recorrente, reforçando a necessidade de um contato mais efetivo para tentar resolver a situação.
Plano de contingência e possíveis cartas na manga
Enquanto a diplomacia tenta reverter o quadro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já afirmou que o governo brasileiro não cederá às pressões e está elaborando um plano de contingência. Esse plano, segundo Garman, pode incluir pacotes de ajuda para empresas exportadoras, com linhas de crédito e redução de impostos. Há também a possibilidade de exceções em algumas tarifas, como para produtos estratégicos como o petróleo.
O professor Lucas Ferraz sugere que o Brasil tem outras “cartas na manga” para futuras negociações, como a redução de tarifas de importação e barreiras não tarifárias, além da possibilidade de parcerias em áreas como minerais críticos e energia renovável.
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O desafio à frente
A situação exige que o Brasil adote uma estratégia proativa e assertiva. A comitiva de senadores em Washington busca dialogar com líderes empresariais, parlamentares americanos e representantes da sociedade civil. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também está nos EUA, mas sua ida a Washington para discutir o “tarifaço” depende do interesse do governo americano em dialogar.
Em meio a esse cenário de incerteza, a busca por um diálogo construtivo e soluções diplomáticas será essencial para evitar um agravamento das tensões e garantir a estabilidade econômica entre as duas nações. A pergunta que paira no ar é se a última cartada diplomática será suficiente para reverter o “tarifaço” iminente.
Publicado por Felipe Dantas