Novas ameaças dos EUA aumentam tensão e governo venezuelano liga alerta vermelho para ataque militar — Brasil de Fato

Novas ameaças dos EUA aumentam tensão e governo venezuelano liga alerta vermelho para ataque militar — Brasil de Fato

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As ameaças à embaixada dos Estados Unidos e a decisão do presidente Donald Trump de interromper os diálogos com Caracas aumentaram o sinal de alerta dentro do governo venezuelano. Se antes a percepção era de apenas uma “guerra psicológica”, agora, setores do chavismo já veem a possibilidade real de um ataque militar contra o território do país caribenho.

Na madrugada de segunda-feira (6), o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, denunciou a tentativa de ataques contra a embaixada estadunidense em Caracas. Ele afirmou que a extrema direita venezuelana tentou colocar bombas no lugar para uma operação de “falsa bandeira”, que abriria espaço para um conflito contra os venezuelanos.

O ministro da Justiça, Diosdado Cabello, corroborou a publicação do deputado e afirmou que a polícia venezuelana já estava trabalhando em conjunto com os EUA para garantir a proteção à embaixada.

A posição de Rodríguez tem um caráter diplomático, já que ele é o principal negociador entre Caracas e Washington. O deputado afirmou ter acionado três vias diplomáticas diferentes para alertar os EUA sobre essa situação e disse ter inclusive avisado outras embaixadas sobre isso. Horas depois, o jornal estadunidense New York Times publicou uma reportagem afirmando que o presidente dos EUA, Donald Trump, havia determinado a interrupção nas negociações com a Venezuela.

De acordo com a publicação, a ordem partiu de uma reunião do comando militar estadunidense na quinta-feira passada. O enviado especial Richard Grenell teria sido chamado e recebido a orientação de deixar de negociar com o presidente Nicolás Maduro. Grenell tem sido o responsável pelo contato direto com Caracas e viajou à capital venezuelana em fevereiro para pressionar o governo venezuelano a receber os deportados.

Na leitura do chavismo, o enviado especial é um dos líderes de uma ala mais “pragmática” dentro do Partido Republicano e que busca uma saída diplomática para as exigências da Casa Branca sobre a Venezuela.

Os últimos passos mudaram a percepção dentro do governo venezuelano. Nas primeiras semanas da operação estadunidense no Caribe, a sensação do chavismo era de que, mesmo atacando embarcações em águas internacionais, a ideia da Casa Branca era promover uma pressão psicológica para forçar uma troca de governo a partir do medo na população.

Agora, a ideia de parte da diplomacia venezuelana é de que os EUA realmente podem tentar buscar o que chamaram de “alvo terrestre”. Para os diplomatas, a leitura é de que é necessário ter uma atuação, mesmo que fora de Caracas, para mostrar “êxito” na guerra contra o narcotráfico. Um ataque militar na fronteira com a Colômbia poderia servir de símbolo deste “sucesso” nas operações, já que a região tem forte disputa entre paramilitares e o tráfico de drogas.

A deputada Ilenia Medina concorda com essa tese. Ela é vice-presidenta da Comissão Permanente de Política Exterior da Assembleia Nacional e afirma que o sentimento de um ataque armado cresceu em relação às últimas semanas.

“Tudo isso é uma jogada de construir falsas bandeiras para incitar os EUA a atacarem a Venezuela. A tendência agora é de que eles ataquem a Venezuela em duas grandes ambições históricas: petróleo e Amazônia. Trump sempre deixou isso claro, ainda mais agora nas fricções graves na política interna. Operativos nessas duas frentes são suficientes para atingir os objetivos e tensionar ainda mais o país”, afirmou ao Brasil de Fato.

Em 2 de outubro, o governo republicano avisou o Congresso que o país estava em “conflito armado” com os cartéis de drogas classificados pela própria Casa Branca como organizações terroristas. Um deles seria o suposto Cartel dos Sóis, organização que seria comandada pelo governo venezuelano para coordenar o tráfico de drogas no Caribe. A existência e atuação deste grupo, no entanto, nunca foi provada.

Caracas respondeu usando o relatório sobre Drogas da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento afirma que a principal rota das drogas que saem da América do Sul é o Pacífico. Ao todo, 87% da droga produzida no continente sai por essa região, enquanto apenas 5% tenta sair pela Venezuela.

Washington destacou oito navios de guerra e um submarino de propulsão nuclear alegando ser parte de um plano para combater o tráfico de drogas no Caribe, onde afirma ter destruído pelo menos cinco embarcações supostamente carregadas com drogas provenientes da Venezuela, resultando em 21 mortes.

Depois de comunicar ao Congresso o estado de “conflito armado”, a Casa Branca terá que atualizar informações sobre o estágio que está esse processo e se renovará essa condição. Trump disse na última semana que a operação teve resultado e “não há mais embarcações” circulando pelo Caribe. Ele ainda sugeriu que levaria os ataques contra o tráfico para a terra.

De acordo com a CNNTrump também elaborou um parecer jurídico confidencial que amplia a gama de ataques para além das organizações classificadas por ele como terroristas. A decisão foi escrita pelo Gabinete de Consultoria Jurídica (OLC) do Departamento de Justiça e autoriza que o presidente use força letal contra uma “ampla gama de organizações criminosas” consideradas como uma “ameaça iminente” aos EUA.

Ajuda do Vaticano e resposta militar

O presidente Nicolás Maduro pediu nesta segunda que a “diplomacia do Vaticano” intervenha para “preservar a paz”.

“Já pedi ajuda ao papa, ao nosso senhor Jesus Cristo. Eu tenho uma grande fé que o papa Leão, como está escrito na carta que eu o mandei, ajude a Venezuela a preservar e alcançar a paz, a estabilidade. Que o papa Leão 14 abrace a Venezuela com sua palavra, com suas bênçãos, e abrace múltiplas vezes também com a diplomacia do Vaticano para que a Venezuela consiga uma grande vitória da paz”, disse em seu programa semanal Com Maduro+.

As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) também deram uma resposta militar e anunciaram novos exercícios militares no Caribe, desta vez na Península de Macanao, no estado de Nueva Esparta. Os testes com armas de fogo serão feitos até a meia noite desta terça-feira (7).

Serão usados artilharia naval e sistemas de defesa antiaérea implantados em áreas estratégicas próximas ao Arquipélago de Los Frailes.

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