Em um discurso que misturou retórica anti-imigração com uma proposta inédita, o ex-presidente Donald Trump defendeu publicamente a deportação não apenas de imigrantes irregulares, mas também de cidadãos americanos nascidos no país que ele classificou como “pessoas perigosas”. As declarações foram feitas durante um evento na Flórida, onde celebrava a inauguração de uma nova penitenciária, no mesmo dia em que a Câmara dos Representantes aprovava uma de suas propostas de lei sobre imigração.
Com tom agressivo, Trump afirmou: “Há muitos criminosos que entraram de forma estúpida neste país e devem ser expulsos. Muitos nasceram aqui, mas ainda assim são uma ameaça. Se querem a verdade, temos que tirá-los daqui também.” A fala, que rapidamente viralizou, reacendeu discussões sobre os limites do discurso político e a possibilidade de uma revisão radical das políticas de cidadania nos EUA.
Reddit e redes sociais em polvorosa
Comunidades online como r/FAUXMOI e r/law no Reddit acumularam mais de 8 mil comentários em poucas horas, com usuários divididos entre críticas veementes e apoio à postura dura de Trump.
“Isso é uma afronta à Constituição. Se um democrata dissesse o mesmo, já estariam pedindo impeachment”, escreveu um usuário. Outros compararam a proposta a medidas autoritárias, citando o risco de violação da 14ª Emenda, que garante cidadania a quem nasce em solo americano. “Deportar americanos? Isso é distopia pura”, protestou outro.
Já os apoiadores do ex-presidente argumentaram que ele “fala o que muitos pensam”, defendendo medidas mais duras contra criminalidade. “Se nasceu aqui, mas é criminoso, por que proteger?”, questionou um simpatizante.
Especialistas alertam para risco constitucional
Analistas jurídicos destacam que, embora a retórica de Trump mobilize sua base, a implementação de deportações de cidadãos natos esbarraria em obstáculos legais intransponíveis. “A Constituição é clara: não há mecanismo para revogar a cidadania de quem nasceu nos EUA, a menos que haja traição”, explicou a professora de Direito Constitucional da Harvard, Laura Gómez.
No entanto, decisões recentes da Suprema Corte — como a que restringiu direitos de imigrantes — alimentam temores de que argumentos extremistas ganhem espaço. “O perigo não é a proposta em si, mas a normalização de ideias que corroem garantias fundamentais”, alertou o ex-deputado e ativista pelos direitos civis Julian Castro.
Repercussão política e eleitoral
O episódio reforça a estratégia de Trump de polarizar o debate público em ano eleitoral, apostando em temas inflamáveis para mobilizar eleitores. Enquanto isso, adversários aproveitam para vincular sua retórica a riscos autoritários. “Isso não é sobre segurança, mas sobre poder. É um ataque direto ao Estado de Direito”, disparou a senadora democrata Elizabeth Warren.
Com a sociedade americana cada vez mais cindida, analistas preveem que o tema dominará a campanha presidencial, potencializando a mobilização de eleitores contra o que veem como uma escalada de intolerância. “Trump está testando até onde pode ir. A resposta virá nas urnas”, resumiu o cientista político Nate Silver. Enquanto isso, a pergunta que ecoa entre juristas e ativistas é: *Até onde um discurso pode ir antes de se tornar uma ameaça real à democracia?