Em entrevista ao O New York Timeso presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou que tem feito esforços, até agora infrutíferos, para abrir canais de diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diante da imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que entra em vigor amanhã, 1 de agosto. Segundo Lula, “ninguém quer conversar”. O Brasil, afirma ele, tem buscado aproximação por meio de múltiplos interlocutores – do vice-presidente Geraldo Alckmin ao ministro da Agricultura Carlos Fávaro, passando pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad -, mas Washington não tem dado sinais de reciprocidade.
O Brasil não quer transformar a tensão em confronto aberto. “Nós sabemos o poder econômico dos EUA (…) mas isso não nos deixa com medo”, disse Lula. Em tom diplomático, mas firme, o presidente argumenta que negociações bilaterais não devem se basear na imposição unilateral de vontades. “Nós sempre precisamos encontrar um meio termo.”
A tarifa impacta diretamente as exportações brasileiras de produtos como aço, alumínio, carne bovina e etanol, setores estratégicos para a balança comercial do país. Mas seus efeitos não devem passar despercebidos do outro lado da fronteira: ao encarecer bens importados, a medida pode pressionar ainda mais os preços ao consumidor nos Estados Unidos, onde a inflação segue resistente e acima da meta de 2% do banco central americano, o Federal Reserve. O risco é que, ao mirar o Brasil, a Casa Branca acabe alimentando a própria fogueira inflacionária.
O governo brasileiro tenta contornar o bloqueio político com persistência técnica. Já foram realizadas pelo menos dez rodadas de reuniões com representantes da Secretaria de Comércio dos Estados Unidos (USTR), segundo Lula. Mas sem respaldo da Casa Branca, os encontros não têm produzido avanços concretos. “Espero que a civilidade retorne à relação entre Estados Unidos e Brasil. O tom da carta dele (Trump) foi definitivamente de alguém que não quer conversa”, completou.
Sem um sinal claro de Washington, o Planalto caminha para um impasse. A diplomacia brasileira, historicamente hábil em construir consensos, agora enfrenta o desafio de dialogar com uma potência que, por enquanto, se recusa sentar à mesa de negociações.
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