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Interações entre sistemas socioeconômicos e recursos naturais devem estar na agenda dos líderes Por Ana Paula Turetta, pesquisadora e chefe de P&D da Embrapa Solos ‣ Portal Terra da Luz

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Trabalho de 165 especialistas de 57 países procura embasar decisões de liderança em todo o mundo

18 de maio de 2025 – A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) lançou há alguns meses um resumo para tomadores de decisão do Relatório de Avaliação sobre as Interligações entre Biodiversidade, Água, Alimentos e Saúde, conhecido como Relatório Nexus. A publicação oferece aos líderes de todo o mundo uma avaliação científica ampla sobre essas interconexões, explorando pesquisas sobre a maximização de benefícios no âmbito do nexo biodiversidade, água, alimentos, saúde e alterações climáticas.

O documento é o produto de três anos de trabalho de 165 especialistas de destaque, de 57 países de todas as regiões do mundo, incluindo o Brasil. Um Webinar sobre a participação brasileira no relatório, inclusive, será realizado no próximo dia 19 de maio, às 10 horas, com transmissão pelo YouTube (assiste aqui). Órgão intergovernamental independente formado por quase 150 governos membros, o IPBES foi instituído em 2012 para fornecer a tomadores de decisões científicas objetivas e atuais sobre a biodiversidade do planeta, por meio da parceria de quatro agências das Nações Unidas (PNUMA, UNESCO, FAO e PNUD).

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Mas, afinal, o que significa nexo ? Trata-se de uma abordagem que considera as interações entre sistemas socioeconômicos e recursos naturais. Essas interações nos mostram como usamos e gerenciamos os recursos naturais, sociais e econômicos, descrevendo as interdependências (ou seja, como esses recursos dependem um do outro), as restrições (muitas vezes impondo condições ou compensações) e as sinergias (que é o quanto os benefícios são potencializados e compartilhados). Por exemplo: algumas doenças parasitárias, quando tratadas apenas como um desafio de saúde, com o uso de medicamentos, tendem a gerar reinfecções. Mas, ao se considerar essas doenças dentro de uma abordagem integrada, que leva em conta a condição do ambiente, como a qualidade da água para o abastecimento de uma comunidade, estaremos tratando a causa do problema, o que irá gerar, além da redução na ocorrência da doença, a melhoria na saúde e no bem-estar da população como um todo.

Esse é apenas um exemplo que ilustra as interconexões entre água e saúde, mas muitos outros podem emergir a partir da abordagem do nexo , como aqueles que ocorrem entre alimento, água e energia. A influência agrícola esses três componentes são componentes da nossa sobrevivência. Sabemos que solos saudáveis são a base para uma agricultura sustentável, aquele solo que é rico em matéria orgânica, com uma boa infiltração de água e diversa em sua biota. Esses fatores são fundamentais para, além de garantir a produção de alimentos saudáveis, também contribuir para o sequestro de carbono, a regulação hídrica, o controle da erosão e tantos outros serviços ecossistêmicos fundamentais para a nossa sociedade.

Ou seja, um solo saudável pode promover a geração de diversos serviços ambientais em áreas agrícolas que vão além da produção de alimentos, e que impactam outros elementos do nexo , como água e energia. E como fazer isso? A partir da adoção de práticas agrícolas conservacionistas, que são capazes de promover essa multifuncionalidade da agricultura.

O projeto Nexus Alimento-Água-Energia (AEE), liderado pela Embrapa Solos, com apoio do CNPq e em parceria com UFRRJ, USP São Carlos, Epamig e TNC, finalizado em 2022, avaliou o impacto de práticas rurais na segurança alimentar, hídrica e energética do município fluminense de Rio Claro, localizado no entorno do reservatório de Ribeirão das Lajes, importante fonte de água e energia para a região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. E os resultados comprovaram, por meio de indicadores desenvolvidos pela equipe, que paisagens rurais bem gerenciadas, a partir da adoção de práticas rurais conservacionistas, podem garantir a segurança alimentar, hídrica e energética à sociedade.

O Brasil possui diversas tecnologias que se enquadram nessa categoria, tais como o sistema de plantio direto (SPD) e os sistemas integrados, como o sistema agroflorestal e a integração laboral-pecuária-floresta (ILPF). Inclusive, esses sistemas são contemplados no Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), que é uma agenda estratégica nacional do governo brasileiro para o enfrentamento à mudança do clima no setor agropecuário. E esse ponto nos leva a uma outra característica relacionada ao nexo , que é a identificação dos principais atores e partes interessadas ( partes interessadas ) conectados ao nexo em questão, dos setores públicos e privados, fundamentais para a identificação das sinergias e compensações entre os setores considerados e que podem facilitar ou dificultar a gestão institucional. Um exemplo relevante dessas articulações é a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, cuja 30ª edição (COP30) reunirá líderes de todo o mundo em Belém (PA), em novembro deste ano.

Sobre a governança do nexo , o relatório da IPBES nos traz uma informação importante, apontando que a priorização de retornos financeiros de curto prazo, ignorando os custos globais para a natureza, que se refletem em impactos na biodiversidade, água, saúde e mudanças climáticas, incluindo a produção de alimentos, causando prejuízos na ordem de US$ 10-25 trilhões por ano.

Por isso, a mensagem-chave do nexo é a de que é necessário avaliar a integração entre os elementos considerados e identificar as sinergias e os trade-offs , o que dá a chance de maximizar os impactos positivos e minimizar os impactos negativos no sistema. Especificamente em relação à agricultura, esta abordagem oferece a oportunidade de transformar a paisagem rural por meio da adoção de práticas conservacionistas capazes de restaurar a qualidade das terras, aumentar a produtividade, diminuir os processos erosivos, otimizar o uso da água e a geração de energia e colaborar com o sequestro de carbono e com os processos de adaptação e mitigação das mudanças climáticas.


Ana Paula Turettu é pesquisadora e chefe de P&D da Embrapa Solos


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Ana PaulaTuretta | Foto: reprodução

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