Fraude em concursos públicos: quem é quem em esquema investigado pela Polícia Federal

Fraude em concursos públicos: quem é quem em esquema investigado pela Polícia Federal

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A Polícia Federal realizou na semana passada uma operação contra um grupo suspeito de fraudar a primeira edição do Concurso Nacional Unificado (CNU 1), realizado no ano passado, e outros concursos públicos. Três pessoas foram presas preventivamente, duas em Recife (PE) e uma em Patos (PB). A investigação apontou que o esquema era um verdadeiro negócio de família, com o suspeito Wanderlan Limeira de Sousa chefiando o grupo.
Ex-policial militar, Wanderlan seria o principal articulador da organização. De acordo com as investigações, era ele quem conversava com os “clientes”, coordenava a logística das provas e distribuía os gabaritos.
Wanderlan nasceu em Patos, no Sertão da Paraíba, e tem 44 anos. Foi expulso da corporação em 2021.
De acordo com a Polícia Federal, citada pelo portal g1, o suspeito fez o CNU 1 apenas para mostrar que seu sistema de fraude funcionava. Após ter sido expulso da PM, ele fez concurso da Previdência Social, tendo sido aprovado como técnico do Seguro Social. Em 2024, além do CNU 1, ele prestou também o concurso do Banco do Brasil. A polícia não identificou participação em nenhum concurso realizado em 2023.
No Concurso Nacional Unificado 1, Wanderlan foi aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com o maior do salário do certame, R$ 22,9 mil, mas não participou do curso de formação.
Em sua ficha criminal, responde por crimes como homicídio, roubo majorado (circunstância que agrava o crime de roubo), uso de documento falso, peculato (roubo ou desvio de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel público), concussão (exigir vantagem indevida em razão do cargo) e abuso de autoridade.
Quem mais atuava no esquema dos concursos?
Ainda segundo a PF, Wanderlan atuava com apoio de familiares. Cada um ocupava uma função diferente na organização criminosa:
Wanderson Gabriel de Brito — Filho de Wanderlan, é apontado pela PF como responsável pela execução técnica e mentor das fraudes.
Valmir Limeira de Sousa — Irmão de Wanderlan, é suspeito de coordenar logística, recrutar ‘clientes’ e negociar as dívidas
Antônio Limeira das Neves — Também irmão de Wanderlan, é suspeito de fraudar o curso da Polícia Federal. Teria ainda financiado as fraudes da filha, Larissa, sobrinha de Wanderlan.
Geórgia de Oliveira Neves — Cunhada de Wanderlan e casada com Antônio, é apontada como peça-chave na lavagem de dinheiro do esquema
Larissa de Oliveira Neves — Sobrinha de Wanderlan, é apontada pelas investigações como “vitrine” para atrair novos interessados para o esquema. Ela também foi aprovada no CNU.
Além disso, outras três pessoas, que não pertenciam à família, também são citadas no inquérito:
Thyago José Andrade — Conhecido como ‘Negão’, é apontado como uma das pessoas que controlava os pagamentos do esquema. Também é responsável por repassar as informações sobre a fraude para os candidatos.
Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior — Policial militar no Rio Grande do Norte, é dono de uma clínica odontológica suspeita de ser usada para lavagem de dinheiro.
Luiz Paulo Silva dos Santos — Tem histórico extenso de participação em fraudes de concursos. De acordo com a PF, está envolvido em fraudes em mais de 67 provas. É apontado nas investigações como uma das figuras centrais da organização.
Ainda segundo as investigações da Polícia Federal, Thyago teria emprestado R$ 400 mil para Antônio Limeira, irmão de Wanderlan, para pagar a fraude da filha Larissa.
A companheira de Thyago, identificada como Laís Giselly Nunes de Araújo, também é apontada como uma das pessoas que conseguiu aprovação em concursos por meio do esquema.
Laís é advogada e a PF suspeita que tenha fraudado 14 concursos. O mais recente foi o do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), que acabou suspendendo na terça-feira o resultado do concurso após a operação.
Como funcionavam as fraudes?
De acordo com a PF, os crimes aconteciam há mais de uma década. Foram dezenas de concursos públicos entre 2015 e 2025: além do CNU 1, as fraudes foram usadas em concursos da PF, da Caixa Econômica Federal, das Polícias Civil e Militar, e para a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O grupo cobrava até R$ 500 mil por vaga.
De acordo com a Polícia Federal, o grupo utilizava mensagens codificadas, comunicação externa e até pontos eletrônicos, inseridos por meio de um procedimento médico, para passar os gabaritos.
A principal evidência do caso está concentrada na análise dos gabaritos do CNU1. Nele, Wanderlan, seu irmão Valmir, a sobrinha Larissa e Ariosvaldo apresentaram respostas idênticas, inclusive os mesmos erros, apesar de terem feito provas de tipos diferentes.
O laudo técnico, citado pelo portal g1, destaca que a probabilidade disso acontecer é o mesma que ganhar o prêmio máximo da Mega Sena aproximadamente 18 vezes consecutivas.
Além disso, a PF identificou movimentações incompatíveis com a renda dos suspeitos. A cunhada de Wanderlan, Geórgia, teria depositado R$ 419,6 mil em espécie mesmo sem vínculo empregatício desde 1998, segundo mostrou um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
Há outros investigados?
No caso do CNU 1, os relatórios da PF apontam que pelo menos dez pessoas se beneficiaram do esquema. Já no caso de possíveis fraudes no concurso da Caixa Econômica Federal, foram identificadas duas pessoas.
A polícia destaca que até o momento não há indícios de envolvimento diretos das bancas organizadoras (no caso do CNU 1, a responsável era a Fundação Cesgranrio). Apesar disso, o inquérito cita possíveis conexões com servidores públicos, profissionais de saúde e outros intermediários locais, que atuariam no recrutamento de “clientes” e na movimentação de dinheiro.
O que dizem as defesas?
O g1 afirma que entrou em contato com as defesas dos investigados, das empresas citadas no relatório e com os ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e do Trabalho.
A Defesa de Wanderlan disse ao portal que “aguarda o acesso a íntegra dos autos para tomar conhecimento e poder exercer o seu trabalho.”
A defesa de Valmir Limeira, irmão de Wanderlan, disse que ele é inocente. Afirmou que “as conclusões divulgadas até o momento são ‘precipitadas’ em relação ao suposto envolvimento de seu cliente na tentativa de fraudar o Concurso Nacional Unificado (CNU).”
Ainda em nota, ao citar dois mandados de busca e apreensão, a defesa disse que a ação foi cumprida “sem que fosse encontrado qualquer elemento que comprove participação ou benefício de Valmir no esquema investigado” e que houve um pedido de prisão preventiva “indeferido pela Justiça por falta de indícios”. Também disse que está disposta a colaborar com as investigações.
As defesas de Antônio Limeira, Georgia de Oliveira e Larissa de Oliveira, irmão, cunhada e sobrinha de Wanderlan, afirmam que “o procedimento encontra-se em fase de apuração, não havendo, até o momento, qualquer denúncia formal ou imputação criminal contra os investigados” e disse estar à disposição das autoridades.
A defesa de Ariosvaldo Lucena negou as acusações contra o policial militar. Disse que “não há qualquer vínculo entre o investigado e os fatos apontados, que se baseiam apenas em indícios” e que, ” com o acesso integral aos autos e durante a instrução processual, será comprovada a inocência de Ariosvaldo”.
A defesa de Thyago José, o “Negão”, defendeu sua inocência. Já a defesa de Laís, sua companheira, a descreveu como “estudiosa” e que não pode receber a “condenação de fraudulenta, antes mesmo do trânsito em julgado do processo. ”
A defesa de Wanderson, filho de Wanderlan, disse que “as defesas não foram notificadas e não tiveram acesso integral aos elementos encartados nos autos da investigação que tramita em segredo de justiça.” Também disse que, “confiantes na justiça e no nosso sistema constitucional da ampla defesa, (…) a verdade real dos fatos deverá ser restabelecida.”
Em nota, o MGI disse que “o trabalho da Polícia Federal está em andamento e o MGI está cumprindo integralmente todas as determinações judiciais a respeito do caso e aguarda os desdobramentos da operação para adotar, se necessário, novas medidas administrativas cabíveis em relação aos envolvidos”.

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