Vozes LGBTQ+ Brasileiras em Queer Newark:
Com Força, Criatividade e Potencial para Liderar
Escrito por: Yamil Avivi, Traduzido por Manoel Jose da Costa Filho
À primeira vista, pode parecer improvável encontrar pessoas LGBTQ+ em uma igreja. No entanto, foi exatamente isso que aconteceu comigo em 2006, quando comecei a frequentar o bairro do Ironbound, em Newark. Conectei-me à igreja luterana St. Stephan’s Grace Community, localizada na esquina da Ferry Street com a Wilson Avenue. Sou um latino gay de Elizabeth e Hillside, filho de imigrantes colombianos de primeira geração.
Com o tempo, passei a integrar o culto em português da igreja, frequentado por brasileiros LGBTQ+ de diferentes idades. Falar português ajudou a criar laços de confiança, mas o que realmente fortaleceu essas conexões foram as vivências compartilhadas como latinos queer imigrantes, enfrentando questões de identidade, trabalho e espiritualidade.
O Ironbound tornou-se mais do que um local para saborear um X Tudo ou tomar um café com salgadinhos. Tornou-se um espaço de reconhecimento — surpreendentemente, um espaço queer. Ao longo dos anos, o bairro deixou de ser discretamente gay para se tornar um ambiente onde a presença LGBTQ+ é visível, orgulhosa e inegável, tanto nas ruas quanto nos estabelecimentos locais. Anos depois, tive a oportunidade de documentar essa transformação em meus escritos.
Muitas das pessoas brasileiras LGBTQ+ que conheci haviam acabado de chegar a Newark. Mesmo recém-chegados, não hesitaram em trabalhar duro. Meus amigos atuam nas áreas de construção civil, limpeza, restaurantes, bares, padarias, salões de beleza e no setor noturno — como DJs, performers, anfitriões e promotores de eventos. Apesar das jornadas intensas, são trabalhadores confiáveis, eficientes e dedicados. Mesmo após uma noite de festa, karaokê ou dança no Ironbound ou em Nova York, estão prontos para trabalhar. São parte essencial da economia de serviços e do empreendedorismo imigrante que sustenta o Ironbound.
Em 2024, o professor Whit Strub, da Rutgers University, publicou Queer Newark: Stories of Resistance, Love, and Community pela Rutgers University Press. A obra representa o primeiro estudo histórico abrangente sobre a vivência queer em Newark, incluindo perspectivas de pessoas brancas, negras e latinas, ao longo de diversas gerações. O livro inclui meu capítulo, intitulado “Temos Muitas Coisas Pra Fazer”: Identidades de Mercado e Construção de Comunidade Queer no Ironbound Brasileiro e na Grande Newark.
Nesse capítulo, argumento que os imigrantes brasileiros queer são fundamentais para a vitalidade econômica e social do Ironbound. São mais do que trabalhadores ou empreendedores — são agentes culturais, conectores sociais e guardiões do conhecimento comunitário. No entanto, essa presença ainda não se traduziu em organização coletiva, militância política ou liderança estruturada.
Os entrevistados expressaram o desejo de ver lideranças queer brasileiras emergirem, especialmente para enfrentar questões como saúde pública (HIV, DSTs, acesso ao PrEP), cultura, envelhecimento, imigração, racismo ambiental, direitos trabalhistas e educação LGBTQ+/transgênera. Muitos acreditam que organizar-se seria uma ótima ideia — e conhecem pessoas capazes de liderar — mas mencionam o cansaço, a insegurança econômica e o medo como obstáculos.
À comunidade LGBTQ+ brasileira de Newark: Vocês não são apenas trabalhadores ou donos de negócios. São pessoas com direitos, sonhos e necessidades sociais, políticas e emocionais. A força, energia e criatividade de vocês também devem ser usadas para construir uma comunidade unida, solidária e ativa. Precisamos das suas vozes, das suas histórias e da sua liderança — não apenas em encontros privados, mas também em espaços públicos, decisões políticas e articulações locais.
Convidamos você a participar da Queer Ironbound Task Force, um coletivo de base comprometido com a visibilidade, a solidariedade e a justiça para pessoas queer no Ironbound e em toda Newark. Se tiver interesse em se tornar membro — ou até futuro(a) líder da comunidade — envie um e-mail para milavi@umich.edu. Juntos, podemos construir um futuro mais justo e vibrante, onde todas as vidas LGBTQ+ sejam reconhecidas e celebradas.