Câncer de intestino, que matou Preta Gil, está em alta em adultos com até 50 anos

Câncer de intestino, que matou Preta Gil, está em alta em adultos com até 50 anos

Artigo Policial

Os vilões são sedentarismo, piora na qualidade do sono, estresse crônico, uso excessivo de telas e, principalmente, uma alimentação baseada em produtos ultraprocessados e pobres em fibras naturais

Reprodução/Instagram/@pretagilCantora Preta Gil morreu no domingo (20) em decorrência de um câncer colorretal aos 50 anos

Muito antes da ciência moderna, Hipócrates — considerado o pai da medicina — já alertava: “A maioria das doenças começa no intestino”. Séculos depois, a medicina confirma essa sabedoria. Hoje, sabe-se que o intestino vai muito além da digestão: ele desempenha papel central na regulação metabólica, imunológica e inflamatória do organismo. E quando esse equilíbrio se rompe, surgem doenças silenciosas que podem evoluir para quadros graves, como o câncer colorretal — que, cada vez mais, tem afetado pessoas jovens.

Por que o câncer intestinal cresce entre os mais jovens?

Nas últimas décadas, observou-se uma queda no consumo mundial de tabaco, mas, ao mesmo tempo, um crescimento no número de casos de câncer do trato gastrointestinal — especialmente entre pessoas com menos de 50 anos. O principal vilão parece ser a mudança no estilo de vida: aumento do sedentarismo, piora na qualidade do sono, estresse crônico, uso excessivo de telas e, principalmente, uma alimentação baseada em produtos ultraprocessados e pobres em fibras naturais.

Esses fatores alteram profundamente o funcionamento da microbiota intestinal — a comunidade formada por trilhões de micro-organismos que vivem em simbiose com nosso corpo. Quando essa microbiota entra em desequilíbrio, condição chamada disbiose, cria-se um ambiente inflamatório e metabolicamente desorganizado, ideal para o desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo o câncer.

Disbiose intestinal: o elo invisível entre maus hábitos e câncer

A disbiose está diretamente associada a fatores da vida moderna: má alimentação, obesidade, sedentarismo e sono inadequado. O consumo desenfreado de produtos industrializados — ricos em aditivos químicos, corantes, conservantes e pobres em fibras — danifica a integridade intestinal, reduz a diversidade bacteriana e compromete a barreira de proteção do intestinofacilitando processos inflamatórios silenciosos.

Estudos recentes também revelam que determinadas bactérias podem estar diretamente ligadas ao desenvolvimento de câncer. Um exemplo já bem estabelecido é o Helicobacter pylorirelacionado ao câncer gástrico e até ao câncer de cólon. Desde 2014, essa bactéria foi classificada como agente carcinogênico do grupo 1 pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer), mesma categoria do tabaco, amianto e radiação.

Prevenção: o poder está nos hábitos e na rastreabilidade

Felizmente, grande parte desses riscos pode ser evitada. A recomendação central é simples: “Descasque mais e desembale menos”. Ou seja, priorize alimentos in natura e fermentados, pratique atividade física regularmente e cultive um estilo de vida equilibrado. A saúde intestinal depende diretamente de uma microbiota saudável — e ela responde positivamente a escolhas conscientes e consistentes.

Além dos cuidados diários, a rastreabilidade preventiva é fundamental. Os exames de sangue oculto nas fezes (FIT) e a colonoscopia são essenciais para detectar lesões precoces. A colonoscopia é indicada a partir dos 45 anos para pessoas sem histórico familiar de câncer intestinal, e antes disso para quem tem parentes de primeiro grau com a doença.

Conclusão

O aumento do câncer de intestino entre jovens não é apenas uma estatística — é um alerta. A origem do problema, muitas vezes, está no prato, na rotina sedentária e no desequilíbrio da microbiota intestinal. Para reverter esse cenário, é preciso resgatar hábitos saudáveis e investir em prevenção. E, como já dizia Hipócrates: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio.”

*Por Dr. Pedro Renato Guazzelili – CRM 71729 | RQE 59679 /66056
Médico Anestesiologista, Intensivista, Mestre em Medicina pela Unicamp, Doutorando em Farmacologia pela Unicamp, Médico do Trabalho, estudioso de Nutrologia e Microbiota



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