Bloco antagoniza com o país judeu, que iniciou o conflito, mas faz declaração hesitante e fraca ao não mencionar bombardeio norte-americano ao país persa, que foi muito mais letal que o israelense
A declaração final da cúpula de líderes do Brics, divulgada neste domingo (6.jul.2025), faz um gesto ao Irã ao condenar os ataques recentes ao país persa, mas não faz menção aos Estados Unidos e a Israel, autores dos bombardeios. Leia a íntegra (PDF – 269 kB). O documento preserva também a Rússia, integrante do bloco, ao mencionar o conflito na Ucrânia.
O documento cita Israel 7 vezes, mas em trechos relacionados aos conflitos na Faixa de Gaza, na Síria e no Líbano. Durante as negociações entre os países integrantes do bloco na última semana, os iranianos cobraram um posicionamento mais duro, com apoio de China e Rússia. O país persa passou a integrar o bloco em 2023. Teerã não reconhece o Estado de Israel e normalmente usa expressões como “regime sionista” para se referir ao país judeu.
O endurecimento da declaração, porém, enfrentou resistência de países mais próximos aos Estados Unidos, como Índia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Egito. Esse grupo quis evitar que o bloco, já muito alinhado à China, tivesse um caráter mais anti-ocidental ou anti-Trump.
Em 24 de junho, o Brics emitiu um comunicado conjunto em que condenou os ataques a instalações nucleares iranianas, também sem citar diretamente Estados Unidos ou Israel. Na ocasião, o texto foi publicado horas depois do anúncio de um cessar-fogo entre Irã e Israel. Esse documento serviu como base para a declaração publicada neste domingo. Os iranianos tentaram incluir no documento menções aos 2 países.
Na declaração final, os países do Brics dizem expressar “profunda preocupação” com a escalada da situação de segurança no Oriente Médio, especialmente em relação à questão nuclear.
“Expressamos ainda séria preocupação com os ataques deliberados contra infraestruturas civis e instalações nucleares pacíficas sob totais salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em violação ao direito internacional e a resoluções pertinentes da AIEA. As salvaguardas e a segurança nucleares devem ser sempre respeitadas, inclusive em conflitos armados, para proteger as pessoas e o meio ambiente contra danos. Neste contexto, reiteramos nosso apoio às iniciativas diplomáticas destinadas a enfrentar os desafios regionais”, diz trecho do texto.
Os países pedem com veemência que a ONU (Organização das Nações Unidas) “se ocupe dessa questão”.
Israel e os Estados Unidos atacaram instalações nucleares iranianas em 21 de junho. O Irã afirma que seu programa é pacífico, enquanto EUA e Israel temem o desenvolvimento de armas Trump afirmou ainda ter “Obliterado” o programa iraniano, mas o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchie disse que a ciência não pode ser destruída por bombardeios e que o país pode recuperar rapidamente sua capacidade nuclear.
Desde então, o Irã suspendeu a cooperação com a Aieea (Agência Internacional de Energia Atômica), exigindo segurança ao seu país para permitir o retorno dos inspetores.
A declaração final preserva a Rússia, um dos integrantes fundadores do Brics, ao mencionar o conflito na Ucrânia. A questão, porém, é abordada de forma mais leve do que em outros documentos do bloco. Cita apenas as iniciativas para a busca de um cessar-fogo na região lideradas pelo Brasil e pela China e também pelos países africanos “voltadas para a resolução pacífica do conflito por meio do diálogo e da diplomacia”. “Esperamos que os esforços atuais conduzam a um acordo de paz sustentável”, diz o texto.
A cúpula do Brics, realizada em 6 e 7 de julho no Rio, está esvaziada. O evento tem ausências importantes, que tendem a reduzir a repercussão política da declaração final, que é parte da estratégia de protagonismo internacional de Lula.
Quatro chefes de Estado não vieram ao Brasil:
- China – Presidente XI Jinping;
- Rússia – Presidente Vladimir Putin;
- Irã – Presidente Masoud Pezeshkian?
- Egito -Abdel Fattoh el-Sisi.
Enquanto o Brics evita citar os Estados Unidos e seu presidente, Donald Trump, o republicano já ameaçou o Brics em fevereiro com tarifas comerciais caso o dólar fosse abandonado nas transações comerciais entre os países integrantes.
Assista (1min48s):
https://www.youtube.com/watch?v=wogunlrue3e
Leia mais sobre a Cúpula do Brics no Rio:
Assista ao vídeo e saiba o que é o Brics (3min36s):