Mercado de caminhões deve fechar 2025 com queda de 8,3% no volume de emplacamento de caminhões. Pelo menos é o que diz a revisão dos números feito pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). No inicio do ano a associação estava prevendo um leve crescimento de 0,2% em relação as 124,9 mil unidades comercializadas em 2024.
Porém, por conta das incertezas dos cenários econômicos e políticos do País, estima-se que o mercado de caminhão deve fechar com 114,5 unidades emplacadas, uma queda de 8,3% em relação ao volume de 2024.
Emplacamento julho: acumulado mantém retração
Apesar da alta de 24,5% nos emplacamentos de caminhões entre junho e julho — passando de 8.500 para 10.600 unidades — o desempenho mercado de caminhões pesados segue em retração quando analisado o cenário anual. A avaliação é de Igor Calvet, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que destacou o impacto do calendário no comparativo mensal.
“Essa alta reflete os três dias úteis a mais em julho, e não uma recuperação efetiva do mercado”, afirmou Calvet durante coletiva de imprensa. A comparação mais adequada, segundo ele, é entre julho de 2025 e o mesmo mês de 2024, quando se observa uma queda de 6,6% nos emplacamentos totais de caminhões.
O recuo é mais acentuado entre os pesados, segmento que representa cerca de 45% das vendas de caminhões. Nesse grupo, a retração chegou a 16% na comparação anual. “Esse desempenho impacta diretamente no resultado geral. Mesmo com crescimento pontual no mês, o acumulado mostra que a retração está consolidada”, afirmou o presidente da Anfavea.
No acumulado do ano, a queda nas vendas de caminhões, em relação a 2024, é de 4,1%. “Em seis meses, emplacamos 6% a menos do que no mesmo período do ano anterior”, completou.
Mercado de caminhões: alta dos juros e instabilidade freiam o setor de pesados
A retração nas vendas de caminhões pesados no país é resultado direto de um cenário econômico marcado por juros elevados e incertezas políticas e comerciais. Calvet destaca a taxa Selic como principal obstáculo para novos investimentos no segmento.
“Estamos operando com uma Selic de 15%, enquanto a projeção inicial para 2024 foi feita com base em 12,25%. Essa diferença compromete completamente os cálculos de aquisição de veículos, especialmente para empresas que compram em volume”, afirmou Calvet.
Segundo ele, o alto custo do crédito leva muitas empresas a adiarem a renovação de suas frotas, exceto em casos obrigatórios, como contratos que exigem atualização de veículos. “Quem pode, posterga o investimento. E isso atinge diretamente o setor de pesados, que é o mais sensível aos efeitos da taxa de juros”, completou.
Além dos juros, a instabilidade gerada por fatores externos também contribui para a incerteza do mercado de caminhões. O presidente da Anfavea citou como exemplo os impactos ainda indefinidos das tarifas internacionais sobre setores como madeira, minério, papel, celulose e café — todos grandes demandantes de transporte rodoviário.
“A falta de clareza sobre os desdobramentos dessas tarifas dificulta a projeção de médio e longo prazo para o setor. Isso se soma a um cenário interno de instabilidade política e econômica, o que acaba travando decisões de investimento”, explicou.
Calvet também chamou atenção para o agronegócio, tradicional impulsionador da demanda por caminhões. Apesar de uma safra forte e da recente recuperação nos preços de algumas commodities, o presidente da Anfavea destacou que há indícios de endividamento e aumento da inadimplência entre produtores rurais.
“O agro também é tomador de crédito. Com o tempo, parte do setor se endividou, e agora surgem sinais de inadimplência. Isso pode influenciar negativamente as compras futuras, mesmo com produção elevada”, afirmou.
Diante desse cenário complexo, a Anfavea informou que acompanha de perto todas as variáveis que impactam a indústria automotiva. “O setor precisa de medidas que revertam a tendência de retração. Estamos concentrados em discutir propostas com foco na recuperação do mercado de pesados no segundo semestre”, concluiu Calvet.
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