Afago de Trump pode ser cilada para Lula

Afago de Trump pode ser cilada para Lula

Artigo Policial

Durante seu discurso na ONU, o presidente americano fez um afago público ao brasileiro: ‘Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos; na verdade, concordamos que nos encontraríamos na semana que vem’

Montagem / TIMOTHY A. CLARY / AFP / Ricardo Stuckert/PRTudo indica que a reunião prometida, talvez a mais importante de todo o governo Lula, não será presencial

Algo inesperado ocorreu na Assembleia Geral da Ele nesta terça-feira, 23 de setembro. Quando todos aguardavam um verdadeiro tsunami de críticas de Trunfo contra Lulaeis que, em vez do estrondo esperado, soaram os violinos para uma surpreendente declaração de amizade. Depois de o presidente brasileiro fazer duras críticas ao líder americano, a expectativa era de um revide ainda mais contundente, uma troca de golpes verbais que confirmaria o clima de confronto entre os dois países.

Lula pegou pesado

Afinal, como um político conhecido pelo temperamento beligerante ficaria calado, sem expor a essência das tensões recentes? Lula, no plenário, não economizou adjetivos: “Não há justificativas para as medidas unilaterais e arbitrárias contra as nossas instituições e nossa economia. Agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa das antigas hegemonias.”

Trump daria o revide?

A expectativa em torno do discurso de Trump era, portanto, de pura agressividade. Correram boatos de que a diplomacia americana havia preparado um dossiê com informações minuciosas para embasar o pronunciamento. No Brasil, comentava-se que o presidente americano não pouparia o adversário. O pior parecia inevitável.

Quando Trump subiu à tribuna, a suposição parecia se confirmar. O chefe do Executivo americano disparou: “Lamento muito dizer isso, mas o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só podem se sair bem quando estiverem trabalhando conosco. Sem nós, fracassarão, assim como outros já fracassaram. É a verdade.” Era Trump sendo Trump.

cta_logo_jp

Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!

Surpresa e perplexidade

Mas o dia dos governistas brasileiros não seria apenas de nuvens carregadas. De repente, o presidente americano mudou completamente o tom e fez um afago público a Lula que deixou todos perplexos: “Eu estava entrando (referia-se ao plenário da ONU), e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Na verdade, concordamos que nos encontraríamos na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns 20 segundos. Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele.”

Comemoração com cautela

Os brasileiros que acompanhavam a cena se entreolharam, incrédulos, como se quisessem ser beliscados para ter certeza de que não sonhavam. Seria mesmo o ultradireitista Trump a proferir palavras tão meigas e conciliadoras? Imediatamente, seguidores de Lula ficaram exultantes. Para eles, aquele gesto havia retirado de Eduardo Bolsonaro o privilégio de ser o principal interlocutor com o governo americano.

Passado o susto, com os pés de volta ao chão, a mente dos assessores mais próximos começou a clarear. Os precedentes recomendavam cautela redobrada. Ainda estavam frescos na memória episódios envolvendo outros líderes que haviam recebido sorrisos iniciais de Trump e, logo depois, enfrentado gestos ríspidos e medidas hostis. Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que o diga. Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, também conhece a sensação de ver a cordialidade dar lugar à frieza diplomática.

Os exemplos são preocupantes

Lula não poderia correr o mesmo risco. Por isso, enquanto uns comemoravam o que parecia uma vitória diplomática de peso, outros avaliavam as possíveis consequências de um desastre para a imagem do presidente brasileiro. O gesto de Trump, por mais amistoso que parecesse, poderia esconder uma armadilha.

De fato, não faltam exemplos no passado recente que reforçam a necessidade de prudência. Em ocasiões anteriores, Trump elogiou líderes estrangeiros para, em seguida, endurecer nas negociações. Foi assim com Xi Jinping: depois de acenos de amizade, aumentou tarifas de importação e adotou uma retórica implacável. O padrão é claro, primeiro o afago, depois a pressão.

Será que vale a pena arriscar?

Nesse contexto, a equipe de Lula sabe que não basta festejar. Em se confirmando uma intenção calculada de Trump, o que se viu em Nova York pode ser a preparação de uma cilada diplomática. O gesto abre espaço para que Lula mostre à sua base que os Estados Unidos desejam diálogo, mas, ao mesmo tempo, retira dele o discurso de vítima que em certo momento lhe rendeu pontos políticos. Agora, não pode mais dizer que Trump se recusa a conversar.

Tudo indica que a reunião prometida, talvez a mais importante de todo o governo Lula, não será presencial. Para evitar riscos, deve ocorrer por videoconferência. Essa escolha, se confirmada, será uma forma de minimizar imprevistos e controlar o ambiente. O que parece, à primeira vista, uma grande vitória diplomática pode, no frigir dos ovos, revelar-se apenas uma jogada matreira do presidente americano. Um lance típico de quem sabe dar uma no cravo e outra na ferradura. Vale a pena pagar para ver? Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.



Conteúdo original

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *