Como uma cidade do Norte Fluminense virou refém da guerra entre caciques da política do Rio

Como uma cidade do Norte Fluminense virou refém da guerra entre caciques da política do Rio

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Para entender o novo capítulo da política fluminense, é preciso voltar algumas décadas — mais precisamente a Campos dos Goytacazes, a mais importante cidade do Norte Fluminense. No fim dos anos 1990 e início dos 2000, dois nomes dominavam o cenário político local: Anthony Garotinho, então prefeito que ganharia projeção nacional ao se eleger governador do Rio e disputar a Presidência da República, e Marcos Bacellar, vereador influente e seu adversário ferrenho. A rivalidade não ficou no passado. Hoje, os filhos dos dois protagonizam os embates: Wladimir Garotinho (PP) comanda a prefeitura de Campos; Rodrigo Bacellar (União Brasil) preside a Assembleia Legislativa do Rio e é o nome do governador Cláudio Castro (PL) para sua sucessão no Palácio Laranjeiras.

Em 2024, Wladimir passou a acusar Bacellar de influenciar cortes nos repasses estaduais a Campos, tudo para enfraquecer sua gestão. A briga ganhou novo fôlego neste mês: o governo do estado suspendeu um convênio milionário com hospitais públicos do município justamente quando Bacellar assumia o cargo de governador interino, durante viagem de Castro a Portugal. Segundo Wladimir, os repasses estaduais para a saúde da cidade despencaram de R$ 200 milhões, em 2021, para zero. “Covarde!”, esbravejou em vídeo postado nas redes. Bacellar, por sua vez, alega que o cancelamento do convênio justamente durante seu período como governador foi mera coincidência e nega as acusações do rival. À época, afirmou que o orçamento da saúde de Campos está entre os maiores do país e acusou o prefeito de se vitimizar com dados inverídicos.

Wladimir e Bacellar, em um raro momento de paz — que já ficou no passado. (Reprodução/Reprodução)

Outra polêmica envolvendo o último mandato-tampão de Bacellar veio logo em seguida, quando ele exonerou o secretário estadual de Transportes, Washington Reis — um desafeto pessoal, aliado de longa data de Bolsonaro e peça-chave na máquina conservadora do estado. A decisão, tomada sem o aval final de Castro, teve efeito imediato: irritado, o ex-presidente rompeu com os dois. Disse que não apoiará nem Cláudio, nem Rodrigo em 2026. A reviravolta escancarou o desgaste de uma aliança que, nos bastidores, sempre foi mais pragmática do que afetiva. E a tensão não era novidade. Dias antes da exoneração, durante uma sessão da Alerj que aprovou a convocação de Washington Reis para uma CPI, Bacellar lançou um petardo contra o irmão do então secretário, que protestava: “Não me confunda com Cláudio Castro.” Essa doeu.

Cláudio Castro (PL) e Rodrigo Bacellar (União).
Cláudio Castro (PL) e Rodrigo Bacellar (União). (Instagram/Reprodução)
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No meio do tiroteio político, sobrou para Campos. Para reverter a suspensão dos repasses à saúde, Wladimir precisou recorrer à Justiça. Na última quinta-feira, 17, o Tribunal de Justiça do Rio determinou o restabelecimento dos valores. A decisão deve ser acatada por Castro, segundo aliados. Um gesto visto por interlocutores como sinal claro de que o governador sentiu o golpe — e que, por isso, está disposto a reabrir os cofres do estado para o inimigo número um de Bacellar.

Mais do que um movimento administrativo, o gesto é interpretado como revanche. Ao que parece, a aliança mais poderosa da política fluminense está por um fio — para a sorte de Campos.

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